Exposição: A SUBVERSÃO DOS MEIOS
No Itaucultural
24 de outubro a 1 fevereiro
Por Maria Alice Milliet (Curadora)
O título da exposição contém em si uma provocação. E é disso mesmo que se trata. O que se quer é justamente evidenciar o caráter experimental que assumem as artes visuais nos últimos 40 anos, naquilo que têm de provocador e alternativo, seja com relação à arte institucionalizada, seja com relação à indústria de comunicação.
A intenção não é fazer um levantamento geral de toda a produção artística destas últimas décadas, mas exemplificar com obras significativas a mudança de paradigma na transição da arte moderna para a atual.
A quebra dos procedimentos ditos "corretos", a exploração dos limites das linguagens, as hibridações intermidiáticas, a combinação de alta e baixa tecnologias, do real e do virtual, enfim, tudo isso que hoje constitui na arte seu modus operandi acaba pondo em xeque o que até então se entendia como arte.
Nos anos 60, a apropriação de imagens provenientes de jornais e revistas, da publicidade, de histórias em quadrinhos e do cinema promove a definitiva dissolução de fronteiras entre o culto e o popular, entre o artesanal e o industrial, no que se refere tanto ao produto artístico quanto aos modos de produção.
Os artistas abandonam o limbo da alta cultura para assimilar a cultura de massa. Apropriam-se de seu imaginário e passam a usar os mesmos recursos técnicos em suas criações. A incorporação da fotografia, da fotocopiadora, do off-set, da estamparia e mais tarde do filme Super-8 e do vídeo derruba o tradicional entendimento da arte como prática restrita às especificidades do desenho, da pintura e da escultura, abrindo o campo da criação artística para atividades estéticas dificilmente categorizáveis.
Hoje, a precariedade ou obsolescência dos suportes conspira contra a museificação da arte (trabalhos em xerox, vídeo, foto digital, no limite, tendem a desaparecer); a preferência pela reprodutibilidade nega a existência à obra única e o valor do original; e a apropriação de imagens para constituir uma nova obra (via colagem, foto, vídeo, internet) desmistifica a autoria. A obra é o processo de criação mais a reação/participação do público.
Paralelamente, não há como negar que o uso pouco convencional que os artistas fazem dos meios tecnológicos constitui por si um comentário crítico aos sistemas de comunicação dominantes (museus e galerias, imprensa, televisão, cinema etc.), na medida em que a arte cria dispositivos poéticos capazes de alterar a percepção das imagens e dos fatos.
Assim como a máquina xerox não foi feita para xerocar o corpo humano, o vídeo de artista dificilmente passa na televisão comercial: os equipamentos podem ser os mesmos, mas os artistas são diferentes.
E o público também reage diferentemente, fica surpreso, estranha, às vezes pergunta: o que será que isto quer dizer? Para que serve? A arte, porém, não fornece respostas, não vem pronta, dá o que pensar.
Essa mostra pretende afirmar a vocação experimental da arte contemporânea, com seus produtos de difícil comercialização, e resistente à institucionalização, distante dos clichês da arte tradicional e da comunicação massiva.